A travessia no deserto

12 de Julho, 2022

Fazer uma travessia no deserto sem uma preparação prévia ou instrumentos de orientação pode parecer uma autêntica loucura. O pensamento coloca-se, automaticamente, em ação alertando para os perigos de tamanha aventura. No entanto, a opção de escolha nem sempre se afigura como uma possibilidade. Não raras vezes, resta-nos caminhar em direção ao desconhecido como uma única certeza que, independentemente, da nossa vontade não podemos recuar. A doença de um dos filhos colocou Gisela Machado dos Santos num desses desertos, áridos e difíceis de percorrer de pés descalços. A desorientação, a desmotivação e o medo invadiram-lhe a alma. Tentou correr para chegar mais depressa a um oásis que acreditava existir, sem sucesso. A sede de conhecimento aumentou, tal como o desespero. A solidão no deserto pesa e semeia a dúvida. Desmorona os castelos de certezas que, de um momento para outro, se transformam em minúsculos grãos de areia. Caminhar sem certezas pesa. Gisela Machado dos Santos podia ter desistido, mas decidiu continuar e recuperar o filho que, a determinada altura, sentiu estar a perder para a doença, mas não ficou por aqui. Decidiu erguer uma calçada, nesse mesmo deserto, para facilitar futuras travessias. A empatia tem forma e materializa-se em atos como este. A Associação Portuguesa de Síndrome de Tourette é, hoje, uma realidade fruto de uma travessia no deserto feita de pés descalços e de uma necessidade transformada em força, que nos inspiram e nos fazem acreditar que o ser humano pode construir palácios com grãos de areia, em pleno deserto.

Foto: LDP

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